sexta-feira, junho 15, 2007

O dia que eu vi minha mãe chorar.

Três horas da manha em Los Angeles.
Acabei de reler o e-mail de um amigo. O nome dele é Dante. Fazia pelo menos uns 4 anos que a gente não se falava. Até que a uns três meses atrás, no aniversário dele, eu resolvi fazer uma surpresa e acabei ligando para ele. Entrei em contato com o filho dele pelo orkut e consegui o telefone dele. E liguei. Minha voz tremia. Engasgava. "Oi Dante... sou eu... Camillinha... do Rio." E por uma questão de segundos pude vê-lo sorrindo para mim.
Anos e anos se passaram. Mas não houve um natal, um ano novo, um aniversário, que eu não tivesse desejado falar com ele. Mas a vida, sempre corrida, sempre adiou minha ligação.
O Dante era aquele que, toda semana sentava para almoçar comigo para conversar. Conversar no sentindo de dúvidas, pensamentos, de quando eu me sentia triste, de quando eu estava alegre. E ele nem precisava dizer muito, o olhar dele já era uma tanto acolhedor. O Dante tinha os melhores conselhos, mesmo assim eu não segui a maioria, mas deles eu nunca esqueci.
Eu, também, gostava de ouvi-lo falar. O jeito como ele contava como havia sido o final de semana dele com a família, o respeito pela esposa, o amor pelos filhos, o trabalho, a igreja que ele frequentava. Tudo. Era tão bom de ouvir. Era o retrato de família que eu nunca tive.
Exatamente um mês depois, estava eu, sentada no ônibus, voltando para casa após um dia de trabalho e me lembrei que era aniversário do meu pai. E nao tive vontade de ligar para ele. E isso me incomodava. "Aff... por que será que eu não tenho vontade de ligar para o meu pai? Meu pai cara. Por quê?!?"
Quando me dei conta, eu já estava na rua, caminhando e chorando. Naquele momento, me veio a lembrança da minha formatura da quarta série do primeiro grau. O Dudu havia ido embora com a minha tia e minha avó. Só restava a minha mãe na festa. E ela me assistia dançar com meus coleguinhas de classe. Eu. Toda feliz e contente. Me sentindo gente grande por estar indo para o "ginásio". E, de repente, o diretor da escola chamou os pais dos alunos para dançar. Mamãe com filhinho. Papai com filhinha. Lá estava eu. Perdida no meio da pista. Sem saber o que fazer. Quando olhei de volta para minha mãe, ela estava chorando. Chorando de soluçar, num cantinho afastada. E eu, com 10 anos de idade, com o coração partido ao ver minha mãe daquele jeito, engoli o choro, abri um sorriso e a puxei para dançar comigo.
Talvez tenha sido por isso que eu não tive vontade de ligar para ele. Por isso que eu nunca desejei que ele estivesse presente no Natal... ou no meu aniversário. Ele nunca dançou comigo. Nunca ouviu o que eu queria dizer. Nunca me deu aquele olhar e o sorriso que o Dante me dava. E ainda por cima fez minha mae chorar. Homem que faz mulher chorar nao é homem, nao merece respeito.
Onde eu quero chegar com isso?
Têm pessoas que estão na sua vida, não tem jeito, e mesmo assim não representam nada para você. Já outras, apenas passam pelas nossas vidas e significam tanto, quem nem elas mesmo sabem. E são essas pessoas que valem a pena conhecer. E são as mais difíceis de serem encontradas.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Nossa, eu sabia q vc nao se dava bem com seu pai, mas nao sabia dessas entrelinhas... eh quando vc eh crianca vc guarda tanta coisa q vc carega pro resto da vida.

30 novembro, 2007  
Blogger Jéssica Caroline Amando Alves disse...

Oiiiiiiiii não te conheço, mas sinto muito por vc e hoje neste momento vc me fez ler oq eu precisava ouvir e por isso sem nem mesmo te conhecer eu te sinto proxima... obrigada.

11 maio, 2008  

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