quinta-feira, novembro 15, 2007

Mulheres.

Acabei de ler a última página do segundo livro de Khaled Hosseine. A Thousand Splendid Suns. O escritor de "O Caçador de Pipas" conseguiu, na minha opinião, se superar. O romance é bem previsível, mas a forma de como é contada a estória é intrigante. Eu vivi a cada página, o sofrimento, a dor, o drama da realidade das mulheres afegãs.
As condições de vida das mulheres no Brasil, há séculos e até poucas décadas atrás, também foram marcadas pela submissão, humilhação, desigualdade, injustiça e principalmente preconceito. Claro que num contexto diferente do Afeganistão, já que a política e religão têm inflência fortíssima.
Na década de 60 minha querida avó, com apenas 18 anos de idade, resolveu sair de casa para casar com meu avô (sem a permissão do meu bisavô). Meu bisavô era uma figura única, militar, durão, e mesmo sendo ela a filha querida dele ele berrou "Sua filha-da-puta, se você sair de casa você não vai colocar mais os pés aqui". E ela, talvez deslumbrada pelos 'anos dourados' deixou-se levar pelo romantismo da epóca. E casou-se com meu avô.
E pagou o Pão-que-o-Diabo-amassou.
Meu avô foi uma das piores pessoas que eu conheci. Complexo. Egoísta. Mesquinho. Transformou a vida de uma menina de 18 anos num verdadeiro inferno. Ciúmes, traições, surras, humilhação, desconfiança. Colocar fogo no berço com a minha mãe dentro foi uma das maldades que ele cometeu.
Acredito que minha avó separou-se após 5 ou 6 anos de casada. Com duas filhas no braço. Filhas que ele renegou. E saiu de casa. Sem ter um teto, sem ter um 'puto' no bolso. Óbvio que seu pai não a aceitaria de volta. Mesmo estando naquelas condições. Maus-tratos pelo marido. Na rua com duas crianças no colo.
Diante das circunstâncias, ela decidiu entregar as filhas à irmã do meu avó, sua cunhada. Um ato de desespero. De sobrevivência. E só Deus sabe o que minha mãe e minha tia passaram nas mãos dela. Enquanto isso, minha avó arranjou um emprego de manicure num salão qualquer, o que acabou tornando-se um lar provisório para ela. Por bondade dos donos, ela passou a dormir nos cantos do salão.
Ela me contava como era triste viver longe das meninas. Cada aniversário, cada Natal e Ano Novo sem estar perto, sem ter dinheiro para comprar um presente, uma roupa nova, sem ceia, sem árvore de natal, sem nada. E meu avó gastando dinheiro com outras mulheres.
Quando eu nasci ele tornou-se um pouco melhor. Primeira e única neta. Mas logo depois voltou a fazer as maldades dele. Lembro-me quando eu tinha apenas 4 anos de idade ele havia me dado de presente de aniversário um video cassete, e video cassete naquela epóca era A invenção. Tinha sido o melhor presente de todos os tempos, lembro perfeitamente. Lembro melhor ainda do dia em que tocou a campainha lá de casa e era um dos empregados dele pedindo o meu querido video cassete de volta. Foi um chororô que só vendo.
Não sei porque lembrei dessas estórias. Bobeiras que fazem parte do passado.
O que importa hoje é que eu e minha 'voreca' somos grandes amigas, uma relação muito maior do que apenas vó e neta. É a pessoa que eu mais admiro. A que mais me inspira. Minha referência. Minha vida!

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