segunda-feira, janeiro 29, 2007

E o final da estória acabou em pizza.

Fazia frio naquela noite. As lágrimas que escorriam pelo meu rosto marcavam o tecido negro que eu vestia. Los Angeles parecia vazia. Quieta. E apenas o soluço do meu choro quebrava aquele silêncio insuportável.
Os últimos quarenta e cinco minutos do ano de 2006, eu passei sentada num ponto de ônibus, no centro da cidade de LA. Havia sido meu terceiro dia de trabalho desde que eu chegara do Brasil. Eu chorava. Chorava e rezava para que ainda estivesse passando ônibus. Meu celular estava sem bateria, jogado na bolsa. Chorava. Rezava. Chorava muito.
Era estranho estar ali. Sentada numa fria pedra de mármore. Sozinha. Chorando. Em pleno inverno de uma cidade desconhecida. Longe de casa. Da verdadeira casa.
Enquanto muitas pessoas comemoravam o Ano Novo que estava se aproximando em poucos minutos, eu estava ali, desejando que o tempo parasse ou que eu acordasse logo daquele pesadelo.
O tempo não parou. Eu não estava tendo um pesadelo. Era tudo cruelmente real.
Finalmente o ônibus chegou. E com ele o Ano Novo. Em preto e branco. Sem barulhos de fogos de artifícios. Sem estouro da champagne. Sem abraços. Sem saudações. Sem promessas. Sem esperanças de um ano melhor. Triste! Eu continuava chorando.
Para cada segundo do novo ano, uma lágrima.
Para cada lágrima, uma lembrança.
O desejo de não estar ali aumentava, junto com a minha lamentável solidão e imensurável dor no peito.
Porém, ainda naquela noite, sentada naquele ônibus voltando para casa, eu percebi que aquele momento estava sendo essencial na minha vida. As imagens das pessoas queridas, os flashes dos momentos bons e ruins, rodavam pela minha mente. Daí, o julgamento do que eu ja fui um dia, do que eu poderia estar me tornando e do que eu estava me tornando de fato.
Perda de identidade.
Ferida na minha personalidade.
Necessidade de mudança!!!
Já em casa, a noite acabou em pizza. Literalmente.
E viva o Ano Novo!!!