sexta-feira, junho 15, 2007

Na beira da estrada. Literalmente!

"Eu estou sempre correndo. Sempre correndo para pegar a sessão do cinema. Sempre atrevessando a rua com o sinal de pedestre piscando. Sempre correndo para pagar uma conta minutos antes do banco fechar. Sempre, sempre, sempre correndo na rua do meu trabalho. Sempre atrasada. Mas (quase) sempre na hora.
Não importa, eu posso estar pronta para qualquer coisa 3 horas antes, mas eu só vou sair de casa quando estiver no limite. Atrasada. Ontem saí de casa para trabalhar às 4:24, para chegar lá exatamente às 5. E eu quase sempre chego. Corri, corri, corri até chegar ofegante ao ponto de ônibus. Não é qualquer canto que tem ponto de ônibus em Los Angeles. Muito menos ônibus. Se perder um... o próximo leva uns 20 minutos.
Fiz sinal. O ônibus (maldito) parou alguns metros adiante. Lá estava eu correndo novamente. Parei em frente à porta de entrada, o motorista me viu e não abriu. Eu, ingênua, pensei que estivesse quebrada, então resolvi entrar pela porta de trás, que é a de saída. Quando pisei no ônibus, o motorista começou a gritar... "ei você... você tem que pagar... você tem que pagar... tá pensando o quê?!?" Óbvio que eu tinha toda a intenção de pagar, fui caminhando até ele, e gritando também... "você acha realmente que eu entrei por trás para não pagar?!? Por que então que você não abriu essa 'fucking door' para mim?!?" Daí começou a confusão... ele começou a ter atitude para cima de mim, e outras pessoas vieram me defender.
De repente, ele parou o ônibus no meio do nada e começou " Listen Everybody, STEP OUTSIDE of my bus right now!!!" Todo mundo ficou se olhando e não acreditando. Ele expulsando todo mundo do ônibus. Todos se recusaram a sair, óbvio. Então, ele desligou o ônibus e saiu sozinho. Daí que veio a verdadeira confusão né? Um cara deu um soco nele... daí ele ligou para a polícia... uma bafafá só.
Mais ou menos 50 pessoas fora do ônibus. No meio do nada em LA. Andamos, TODOS, até a próxima parada de ônibus, que ficava há uns cinco minutos. Agora me responda, qual o ônibus que ia parar para deixar entrar aquele bando de gente? Nenhum. As pessoas decidiram andar e andar até não-sei-aonde. Eu, com mais uma dúzia de gente, decidi esperar a bondade de algum motorista-normal de ônibus parar. Cheguei no trabalho com uma hora e meia de atraso."
Isso aconteceu há uns três meses atrás, escrevi, mas nunca postei. Por coincidência achei no meu computador e dei boas risadas.
Tem COISAS que só acontecem comigo, vocês não sabem da missa à metade. (risos) Bom, a foto foi tirada em outra ocasião, completamente diferente, mas ilustra bem o momento que eu passei!!! hahahaha
08.11.2007

O dia que eu vi minha mãe chorar.

Três horas da manha em Los Angeles.
Acabei de reler o e-mail de um amigo. O nome dele é Dante. Fazia pelo menos uns 4 anos que a gente não se falava. Até que a uns três meses atrás, no aniversário dele, eu resolvi fazer uma surpresa e acabei ligando para ele. Entrei em contato com o filho dele pelo orkut e consegui o telefone dele. E liguei. Minha voz tremia. Engasgava. "Oi Dante... sou eu... Camillinha... do Rio." E por uma questão de segundos pude vê-lo sorrindo para mim.
Anos e anos se passaram. Mas não houve um natal, um ano novo, um aniversário, que eu não tivesse desejado falar com ele. Mas a vida, sempre corrida, sempre adiou minha ligação.
O Dante era aquele que, toda semana sentava para almoçar comigo para conversar. Conversar no sentindo de dúvidas, pensamentos, de quando eu me sentia triste, de quando eu estava alegre. E ele nem precisava dizer muito, o olhar dele já era uma tanto acolhedor. O Dante tinha os melhores conselhos, mesmo assim eu não segui a maioria, mas deles eu nunca esqueci.
Eu, também, gostava de ouvi-lo falar. O jeito como ele contava como havia sido o final de semana dele com a família, o respeito pela esposa, o amor pelos filhos, o trabalho, a igreja que ele frequentava. Tudo. Era tão bom de ouvir. Era o retrato de família que eu nunca tive.
Exatamente um mês depois, estava eu, sentada no ônibus, voltando para casa após um dia de trabalho e me lembrei que era aniversário do meu pai. E nao tive vontade de ligar para ele. E isso me incomodava. "Aff... por que será que eu não tenho vontade de ligar para o meu pai? Meu pai cara. Por quê?!?"
Quando me dei conta, eu já estava na rua, caminhando e chorando. Naquele momento, me veio a lembrança da minha formatura da quarta série do primeiro grau. O Dudu havia ido embora com a minha tia e minha avó. Só restava a minha mãe na festa. E ela me assistia dançar com meus coleguinhas de classe. Eu. Toda feliz e contente. Me sentindo gente grande por estar indo para o "ginásio". E, de repente, o diretor da escola chamou os pais dos alunos para dançar. Mamãe com filhinho. Papai com filhinha. Lá estava eu. Perdida no meio da pista. Sem saber o que fazer. Quando olhei de volta para minha mãe, ela estava chorando. Chorando de soluçar, num cantinho afastada. E eu, com 10 anos de idade, com o coração partido ao ver minha mãe daquele jeito, engoli o choro, abri um sorriso e a puxei para dançar comigo.
Talvez tenha sido por isso que eu não tive vontade de ligar para ele. Por isso que eu nunca desejei que ele estivesse presente no Natal... ou no meu aniversário. Ele nunca dançou comigo. Nunca ouviu o que eu queria dizer. Nunca me deu aquele olhar e o sorriso que o Dante me dava. E ainda por cima fez minha mae chorar. Homem que faz mulher chorar nao é homem, nao merece respeito.
Onde eu quero chegar com isso?
Têm pessoas que estão na sua vida, não tem jeito, e mesmo assim não representam nada para você. Já outras, apenas passam pelas nossas vidas e significam tanto, quem nem elas mesmo sabem. E são essas pessoas que valem a pena conhecer. E são as mais difíceis de serem encontradas.